É bem verdade que a comunicação se faz não só através de palavras, os gestos e mímicas, as expressões faciais e até mesmo os desenhos, que o digam nossos antepassados, comunicam. Por isso, acredito que a intraduzibilidade completa não exista, apesar de saber que nem sempre as pessoas entendem o que queremos dizer em nosso próprio idioma, quanto mais em uma segunda língua.
Como brasileiros geralmente damos “um jeitinho” (an way of doing things) de explicar o que queremos dizer, quase sempre dá certo, mas a verdade é que as diferenças culturais entre países falantes do português e da língua inglesa tornam nosso vocabulário muito peculiar e por mais que tentemos dar sentido a algumas expressões ou palavras, a acepção será muito provavelmente diferente em alguns casos. É preciso paciência e conhecimento não só do idioma, mas também dos comportamentos, costumes e hábitos do ouvinte.
Como exemplo, podemos começar com a clássica “saudade”, para nós uma palavra cheia de significado, no inglês “miss” (sentir falta), muito pouco para uma grande distância de quem se ama, sentimos falta de algo superficial, a saudade dói, adoece assim algo que se aproxima é a palavra “homesick” (lar + doente) “saudades de casa”.
Algumas palavras por mais que possam ser explicadas e até tenham correspondentes perdem a graça, por exemplo:
- chulé: stinky feet ou cheese feet
- calorento/friorento: sensitive to the hit/cold
- atrapalhar : to mess up
- arrasou: you killed it
- enrolado: someone who can never be organized
- cadê: Where is it?
- cafuné: to scratch somebody’s head gently (verb)
Imagine pedir um “cafuné” em inglês: “please, scratch my head gently”. Muito esquisito!
Algumas outras confundem, por exemplo, “ear” para nós duas palavrinhas “orelha” e “ouvido”, uma “earache” pode ser então “dor na orelha” ou “dor de ouvido”. Temos o inverso também: para nós a palavra “piscar” refere-se a fechar e abrir apenas um dos olhos ou ambos, enquanto no inglês “wink” significa piscar apenas com um dos olhos e “blink” piscar com os dois.
Ainda, existem as palavras que traduzimos, mas ficam vagas diante do real significado, por exemplo, “cool” que traduzimos como “legal”, mas que na verdade seria “legal + popular + descolado”. Ou palavras que não cairiam bem em nossa língua como “bromance” (brother + romance) usado para uma forte amizade entre dois homens, o que em nosso país provavelmente viraria piada e seria observado com preconceito.
Portanto, é importante sempre analisar o contexto, ter cuidado caso não conheça a cultura do outro e “molejo” (swing) para expressar de maneira correta o que se pensa. Lembrando que quando tratamos de um livro ou de um filme e semelhantes, a tradução é necessária, entretanto na aprendizagem de uma segunda língua, opte sempre pela “não tradução”, empenhe-se em compreender o significado e não em encontrar o equivalente em seu idioma, assim a nova linguagem fará mais sentido, e você pensará nela, tornando a fala e o entendimento mais rápido e simples!